quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Vergonha

Sheila era uma morena bonita, de seios fartos e cabelos negros cacheados, morava no Méier e trabalhava de segunda à sexta das 9h às 18h, como secretária em uma clínica de exames médicos para empresas (daqueles que temos que fazer quando somos admitidos ou demitidos) no centro da cidade. Mas ela tinha uma grande vergonha na vida: gostava de música clássica.
Todos os dias, Sheila pegava o ônibus e colocava em seu smartphone músicas clássicas para tocar enquanto enfrentava o trajeto de praticamente uma hora que a separavam de sua casa até o trabalho. Por conta dessa vergonha, mudava o nome dos arquivos para que as pessoas pensassem que o que ela escutava mesmo era pagode. Mozart, por exemplo, virava Molejo, Tchaikovsky, Terra Samba, Beethoven, Bom Gosto e assim por diante.
Sheila não sabia explicar muito bem a razão para tal vergonha, mas tinha receio de que as pessoas pensassem que ela era pedante por gostar daquele tipo de música. O fato é que ela escondia esse segredo como quem esconde que come meleca. Como se fosse algo repugnante e inaceitável.
Mas além do gosto pela música clássica, Sheila ainda tinha outro hábito que seus amigos não conheciam: ela fazia bicos em uma casa de suingue. Duas vezes por semana, ela ia para um estabelecimento, em Copacabana, e ficava por lá para o caso de algum frequentador(a) desacompanhado aparecer querendo entrar. Como pessoas sozinhas não podiam frequentar o local, Sheila oferecia sua companhia.
Em um desses dias, a morena aguardava algum solitário chegar, quando deu de cara com o Rogério, um dos médicos da clínica. O doutor, coitado, ficou completamente sem jeito, mas não tinha o que fazer, Sheila já o tinha reconhecido, então, resolveu que ia entrar para não perder a viagem.
Já a secretária manteve o profissionalismo e atendeu o doutor como sempre fazia. Lá dentro realizou todas as fantasias que Rogério propunha, e, entre uma brincadeira e outra os dois começaram a ficar mais íntimos.
A química entre os dois foi tanta que resolveram sair dali e ir para um motel. Passaram a noite inteira praticando as mais estranhas posições. E entre uma posição e outra, Sheila foi tomar um banho e quando volta, viu Rogério mexendo em seu celular. O coração da secretária parou por alguns instantes, a respiração faltou e ela só conseguiu voltar a si quando escutou o doutor falando "Nossa, você também é fã do Molejo? Eu adoro!". Ele não havia escutado as músicas, apenas tinha fuxicado o nome das músicas (um hábito um tanto quanto invasivo), o segredo de Sheila estava a salvo.
O mesmo não se pode dizer da relação entre os dois, ela até aceitou o convite de Rogério para sair mais umas duas vezes. Foram noite de sexo maravilhosas. Mas a verdade mesmo, é que Sheila não conseguiria falar sobre pagode com o doutor pagodeiro a cada vez que encontrasse com ele. Além disso, preferia manter seu segredo a salvo e continuar ouvindo música clássica no ônibus.

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Eu li - O lado bom da vida

Título original: The Silver Linings Playbook
Autor: Mathew Quick
Editora: Intrínseca
Número de páginas: 256
Ano: 2013

Se eu fosse descrever esse livro em apenas uma palavra diria que ele é simples. E foi justamente essa simplicidade que me atraiu tanto na história, é o que torna o livro tão gostoso de ler. Eu já havia visto o filme e, apesar de ter gostado, não entendia muito bem o alvoroço em torno dele, ele é bom e fim. Já o livro merece um pouquinho desse frenesi na minha humilde opinião. O filme é apenas levemente inspirado no que é contado no livro.
A história começa quando o personagem principal, Pat Peoples, (Bradley Cooper, no filme), sai da clínica psiquiátrica onde estava internado desde que havia tido um incidente com sua (ex?) esposa Nikki. Pat não se lembra do que o fez ir para o “lugar ruim” e não sabe quanto tempo ficou por lá, além disso, tem certeza de que irá reatar com sua amada esposa e que a separação é apenas temporária. E Pat é um cara cativante, muito ingênuo e dono de um ótimo coração (disposto a ser gentil), impossível não gostar dele e se identificar com seus dramas.
Outra personagem cativante é Tiffany (vivida no filme por Jennifer Lawrence) que, assim como Pat, já esteve internada em uma clínica psiquiátrica. Tiffany perdeu o marido, um policial, e desde então vem sofrendo com a perda. A personagem é um pouco manipuladora e grossa, mas está disposta a ser uma boa amiga para Pat, mesmo que não encontre as maneiras certas de ajuda-lo.
Há outros personagens importantes na trama como os pais de Pat (o pai no filme é uma figura COMPLETAMENTE diferente da do livro), o Dr. Cliff, seu terapeuta, seu irmão Jake, além de seu melhor amigo Ronny.
A partir dai, a história simples, mas encantadora, se desenvolve mostrando os dramas da mente perturbada de Pat (que é mostrada de maneira bem bacana pela maneira como o autor escreve) e sua busca incansável no reencontro com Nikki.
Vale muito a leitura, mesmo que já tenha visto o filme. São duas histórias bastante diferentes. Arriscaria dizer que apenas os personagens e uma ou outra situação ligam uma coisa a outra.