quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Festa da firma

Juliana não gostava muito do clima de fim de ano, achava as músicas natalinas todas insuportáveis, a decoração brega, amigo oculto chato, comidas muito calóricas... Mas principalmente ela detestava as festas de final de ano da firma.
É bem verdade que já havia alguns anos que ela conseguia evitar esse evento com as mais variadas desculpas: em um ano havia viajado para visitar uma avó em Minas, que nunca tinha existido, sua família era mesmo toda do Rio; em outro ano tinha ficado muito doente por causa da alergia, que ela mesma havia causado comendo camarão em excesso; teve a vez em que ela tinha terminado com o namorado e estava muito triste para comemorações, quando na verdade estava com ele no motel.
Mas naquele ano, a data chegou sem que Juliana tivesse conseguido criar uma desculpa boa a consistente para faltar ao evento tão temido e detestado. Então, naquela sexta-feira quente (isso se 45 graus a sombra for ainda considerado como apenas quente), ela se juntou aos colegas de trabalho para ir até o local da festa, um sítio afastado.
Logo na entrada da van, ao se juntar aos outros passageiros, Juliana já teve um gostinho de como seria o seu dia, todos muito bem arrumados, com direito a uma das moças do RH usando vestido vermelho e gorro de papai-noel. Durante o caminho, o humor de Juliana não melhorou, as músicas tocadas na van, obviamente, eram natalinas (e das mais bregas que poderia ser possível) e com o trânsito, foram necessárias quase duas horas para chegar ao local, uma verdadeira tortura.
Na entrada do sítio, Juliana percebeu que seu humor só ia piorar, a decoração era natalina, com muitas luzes e frufrus vermelhos e dourados. Tinha até mesmo um papai-noel inflável estrategicamente posicionado para ser fotografado.
O bufe também era temático, com peru assado, tender, salada de maionese, bolinhos de bacalhau e com muito pavê e panetone para a sobremesa. Ela queria evitar comidas calóricas, mas a sua última refeição tinha sido uma fruta no escritório (ela estava tentando manter a forma pro verão com uma alimentação saudável e corridas na esteira), mas seu estômago já urrava com a fome de dez mendigos.
Tentou começar pelas frutas, mas elas eram apenas decoração. Comeu então uma salada, mas é claro que as folhas não conseguiram nem tampar o buraco do seu estômago. Foi ai que Juliana percebeu que teria que ceder e ingerir calorias em excesso (correria em dobro na semana que vem). Começou com o bolinho de bacalhau (era delicioso), pegou um pedaço do peru e pra acompanhar a farofa de bacon e a salada de maionese. Repetiu três vezes.
Por causa da gulodice, sentiu a garganta seca e se entregou a uma cidra. Na sobremesa, fez a piada do "é pra ver ou pra comer" enquanto se servia do doce e do panetone. Mais cidra.
Depois de algum tempo, já estava tirando fotos com o papai-noel inflável e usando um gorro vermelho. Se inscreveu no amigo oculto que ia acontecer na firma na semana seguinte e brigou pelos brindes bregas que incluíam pisca-piscas e grinaldas para porta. Na volta pra casa, fez questão de fazer uma quentinha com bolinho de bacalhau e outra com panetone e pavê e ainda cantou Jingle Bells na van.
Na semana seguinte sua baia do escritório era a mais enfeitada de todas, com direito a globos de neve (constantemente agitados) e luzes, já tinha também decorado a ordem das música do CD da Simone que ela tinha comprado nas Lojas Americanas. Naquele ano, ela foi a mais animada do natal da família, com direito a se fantasiar de papai-noel para as crianças.
Anos mais tarde Juliana estava 15 quilos mais gorda (tinha largado a alimentação saudável de lado e se cansava até de andar para a padaria), morando com 3 gatos (chamados Noel, Claus e Rudolph), que usavam gorro de papai-noel e dividiam com ela a ceia da sua época preferida do ano: o natal.

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