Juliana não gostava muito do clima de fim de ano, achava as músicas natalinas todas insuportáveis, a decoração brega, amigo oculto chato, comidas muito calóricas... Mas principalmente ela detestava as festas de final de ano da firma.É bem verdade que já havia alguns anos que ela conseguia evitar esse evento com as mais variadas desculpas: em um ano havia viajado para visitar uma avó em Minas, que nunca tinha existido, sua família era mesmo toda do Rio; em outro ano tinha ficado muito doente por causa da alergia, que ela mesma havia causado comendo camarão em excesso; teve a vez em que ela tinha terminado com o namorado e estava muito triste para comemorações, quando na verdade estava com ele no motel.
Mas naquele ano, a data chegou sem que Juliana tivesse conseguido criar uma desculpa boa a consistente para faltar ao evento tão temido e detestado. Então, naquela sexta-feira quente (isso se 45 graus a sombra for ainda considerado como apenas quente), ela se juntou aos colegas de trabalho para ir até o local da festa, um sítio afastado.
Logo na entrada da van, ao se juntar aos outros passageiros, Juliana já teve um gostinho de como seria o seu dia, todos muito bem arrumados, com direito a uma das moças do RH usando vestido vermelho e gorro de papai-noel. Durante o caminho, o humor de Juliana não melhorou, as músicas tocadas na van, obviamente, eram natalinas (e das mais bregas que poderia ser possível) e com o trânsito, foram necessárias quase duas horas para chegar ao local, uma verdadeira tortura.
Na entrada do sítio, Juliana percebeu que seu humor só ia piorar, a decoração era natalina, com muitas luzes e frufrus vermelhos e dourados. Tinha até mesmo um papai-noel inflável estrategicamente posicionado para ser fotografado.
O bufe também era temático, com peru assado, tender, salada de maionese, bolinhos de bacalhau e com muito pavê e panetone para a sobremesa. Ela queria evitar comidas calóricas, mas a sua última refeição tinha sido uma fruta no escritório (ela estava tentando manter a forma pro verão com uma alimentação saudável e corridas na esteira), mas seu estômago já urrava com a fome de dez mendigos.
Tentou começar pelas frutas, mas elas eram apenas decoração. Comeu então uma salada, mas é claro que as folhas não conseguiram nem tampar o buraco do seu estômago. Foi ai que Juliana percebeu que teria que ceder e ingerir calorias em excesso (correria em dobro na semana que vem). Começou com o bolinho de bacalhau (era delicioso), pegou um pedaço do peru e pra acompanhar a farofa de bacon e a salada de maionese. Repetiu três vezes.
Por causa da gulodice, sentiu a garganta seca e se entregou a uma cidra. Na sobremesa, fez a piada do "é pra ver ou pra comer" enquanto se servia do doce e do panetone. Mais cidra.
Depois de algum tempo, já estava tirando fotos com o papai-noel inflável e usando um gorro vermelho. Se inscreveu no amigo oculto que ia acontecer na firma na semana seguinte e brigou pelos brindes bregas que incluíam pisca-piscas e grinaldas para porta. Na volta pra casa, fez questão de fazer uma quentinha com bolinho de bacalhau e outra com panetone e pavê e ainda cantou Jingle Bells na van.
Na semana seguinte sua baia do escritório era a mais enfeitada de todas, com direito a globos de neve (constantemente agitados) e luzes, já tinha também decorado a ordem das música do CD da Simone que ela tinha comprado nas Lojas Americanas. Naquele ano, ela foi a mais animada do natal da família, com direito a se fantasiar de papai-noel para as crianças.
Anos mais tarde Juliana estava 15 quilos mais gorda (tinha largado a alimentação saudável de lado e se cansava até de andar para a padaria), morando com 3 gatos (chamados Noel, Claus e Rudolph), que usavam gorro de papai-noel e dividiam com ela a ceia da sua época preferida do ano: o natal.
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