domingo, 23 de março de 2014

Eu li - Nu, de botas

Autor: Antonio Prata
Editora: Companhia das Letras
Número de páginas: 144
Ano: 2013

Quando me indicaram esse livro (com muitos elogios) resolvi pesquisar mais sobre ele. Uma das coisas mais faladas é: se você viveu sua infância nos anos 80, precisa ler esse livro. Eu nasci nos anos 80, mas minha infância que sou capaz de lembrar foi toda na década de 90 e, apesar de ter vivido situações diferentes das do Prata,  a maneira de ver o mundo era muito parecida.
Nu, de botas traz as memórias de Antonio Prata de uns 5 até mais ou menos uns 10 anos de uma maneira divertidíssima que mistura o olhar de uma criança e o vocabulário de um um adulto. Mas não espere um adulto contando suas memórias, temos a impressão de que Prata volta no passado para nos contar a história da maneira como ele a viveu, ou seja, do modo bem peculiar como as crianças encaram o mundo e suas verdades. Mesmo que use palavras típicas de um adulto, o autor usa os trejeitos infantis para nos contar causos da sua infância, com destaque para os exageros comuns aos pequenos.
O resultado é sensacional, gostoso de ler e engraçadíssimo. Dei muitas risadas altas enquanto lia (situação engraçada no ônibus lotado). Uma das histórias é parecida com uma que vivi, quando me escondi da minha mãe e ela não conseguia me encontrar, lembro dela brigando comigo por eu ter feito aquilo, enquanto eu estava super orgulhosa de ter ganhado dela no esconde-esconde.
Além disso, tem muitas dúvidas que eram as mesmas que a minhas, assim como os medos. Lembro de, como Prata, não gostar de ir para um lugar que "ia ser cheio de crianças da minha idade", achava essa situação assustadora, não tinha muito traquejo social no alto dos meus 7 ou 8 anos de idade.
Apesar de ter situações típicas dos anos 80, como andar no carro sem cinto, o livro pode fazer qualquer um se lembrar da sua própria infância. Porque, apesar de hoje em dia os brinquedos e brincadeiras serem muitos mais tecnológicas, a maneira como uma criança vê o mundo continua sendo a mesma.
Leiam e divirtam-se demais!

sexta-feira, 21 de março de 2014

Eu li - O jantar


Título original: Het Diner  
Autor: Herman Koch
Editora: Intrínseca
Número de páginas: 256
Ano: 2013

Não dá para falar muito sobre o enredo do livro sem soltar spoilers, mas basicamente a história é sobre o encontro de dois irmãos e suas respectivas esposas em um jantar em um restaurante chique para discutir um acontecimento envolvendo seus filhos adolescentes.E o que os garotos fizeram é pesado.
Os personagens são bem construídos e também bem desconstruídos, ao longo do livro você vai conhecendo bem cada um deles e vendo que são bem diferentes do que mostrado inicialmente. Uns querendo se safar (e safar os seus queridos) a qualquer custo, sem nem ao menos ponderar as suas ações e opiniões.
Do meio para o final, já estava com raiva, querendo entrar na discussão, brigar e dar a minha opinião! Fiquei estressada com aqueles personagens como se eles fossem pessoas reais (podem até ser, não duvido que muitas pessoas não pensem daquele jeito). 
E esse, acho que seja o grande mérito do livro, nos incluir tanto na história. Não dá pra não se envolver. Mais um livro que entra pra lista dos que eu indico.

segunda-feira, 10 de março de 2014

Eu vi - 12 Anos de Escravidão

Nome original: 12 years a slave
Direção: Steve McQueen
Gênero: Drama
Ano: 2013
Duração: 133 min
País: EUA

O filme é o grande queridinho do momento e dividiu opiniões dos meus amigos, fiquei na dúvida de em quem acreditar. Admito que esperava apenas mais um filme que fala sobre os abusos da escravidão, com clichês mais do que batidos. Em alguns momentos até achei que é isso mesmo que acontece. Já em outros, o filme consegue ser tão intenso e sensível que, no final das contas, entrei para o time dos que acharam o filme realmente muito bom e que trata o tema de uma forma diferente e um pouco perturbadora (houve cenas em que fechei meus olhos).
Mas se engana quem pensa que o filme só faz uso da violência para mostrar os absurdos da escravidão, as cenas violentas são sim fortes e têm sua importância na trama, mas há outras sutilezas que denunciam todas as atrocidades cometidas contra os negros nesse período nefasto da humanidade. A tortura psicológica talvez seja a maior delas.
O filme conta a história real de Solomon Notrhup, um negro do século XIX que nunca havia experimentado a escravidão e que é sequestrado e vendido como escravo. Durante 12 anos, Solomon, que passa a ser chamado de Platt, vive como escravo em uma fazenda de algodão na Louisiana, com um senhor de escravos bastante severo e cruel.
Doze anos de escravidão me deixou perturbada de uma forma mais intensa que outros filmes escravidão/sofrimento talvez por conta da maneira como mostra a objetificação do negro. Para os senhores de escravos do filme, os negros não passam de reles propriedades sobre as quais eles tem todo o direito de fazer o que quiser, de uma forma que não me imagino fazendo nem com um livro meu. Eu talvez tenha mais pena de maltratar um objeto meu, do que aqueles senhores de escravos tinham com suas propriedades. O filme de McQueen mostra isso de forma bem realista incômoda.
Para mim, o filme vale a fama que tem.

sexta-feira, 7 de março de 2014

Pareidolia

Não sei bem quando parei com tal mania, mas só sei que já faz algum tempo não a coloco em prática.
Quando era criança eu tinha várias delas, tomar banho e não esfregar entre os dedos do pé; deixar a televisão ligada para que meus pais desligassem quando eu dormisse; espalhar a comida no prato para fingir que tinha comido, roer unha; comer salsichas cruas da geladeira, deixando-as com uma mordida dentro do pacote...
Mas de uma delas guardo uma memória especial, a de procurar formas amigáveis em tudo que pudesse, a começar pela mais clássica de todas: as nuvens. Nunca queria achar um carneiro, o legal era tentar encontrar o mapa do Brasil ou um velho narigudo com chapéu e cachimbo ou então uma águia caçando um pequeno rato metros de distância abaixo ou, quem sabe, um velociraptor em ação. Só que nem sempre o céu estava com nuvens branquinhas e fofinhas, mas mesmo assim, a minha mente criativa infantil tratava de procurar algo de interessante em qualquer lugar.
Como no banheiro lá de casa. Lembro de sentar no vaso para fazer número dois e ficar procurando formas nas manchas cinzas dos azulejos, achei Jesus Cristo (que não virou ponto de peregrinação), uma lagartixa com um rabo muito longo, uma barraca de praia e um cachorro com uma orelha de pé e outra caída, acabava sempre demorando mais do que o necessário sentada no vaso.
Outro objetivo inanimado que ganhava vida aos meus olhos de criança era um abridor de garrafas que ficava preso na parede da cozinha da primeira casa que morei, ele parecia ser um sapo com olhos alertas e esbugalhados. O mesmo acontecia com a pinça da minha mãe, bastava um olhar mais atento e ela virava uma planária de um olho só. O despertador da minha avó também escondia, no seu verso, um rosto triste e cheio de verrugas.
As frutas empilhadas na fruteira também poderiam se transformar em um personagem e até mesmo a sombra da copa das árvores da rua podiam esconder algum desenho curioso, bastava que eu estivesse disposta a encontrá-los.
Acho que talvez por isso não tenha mais praticado essa mania, por falta de disposição. Quem sabe eu não tente ser um pouco menos preguiçosa e distraída e pratique um pouco mais da pareidolia.

Post inspirado por este comercial:


quarta-feira, 5 de março de 2014

Eu li - Perdão, Leonard Peacok


Título original: Forgive me, Leonard Peacock
Autor: Mathew Quick
Editora: Intrínseca
Número de páginas: 224
Ano: 2013

Resolvi ler esse livro depois de ler
O lado bom da vida que gostei muito e me fez querer ler mais do autor.
Perdão, Leonard Peacock conta a história de um dia na vida do garoto do título, mais especificamente o dia de seu aniversário em que ele tem planos: matar seu ex-melhor amigo Asher Beal e em seguida se matar.
O livro tem uma premissa bem boa e uma linguagem muito dinâmica (talvez esse seja seu maior mérito), mas não me agradou tanto quando O lado bom. Talvez porque crie uma grande expectativa em torno de um segredo do personagem principal.
Desde o início do livro, Leonard diz que Asher Beal fez algo que o magoou muito, sem revelar o que realmente aconteceu. O autor cria uma aura de mistério em torno disso, mas no fim das contas não fiquei surpreendida. Não era nada muito diferente do que eu já esperava.
O livro é curto, mas consegue caracterizar bem os personagens: a mãe relapsa de Leonard (impossível ter alguma simpatia por ela), o pai músico e ausente, o vizinho esquisito e camarada e o Herr Silverman, o professor gente boa e preocupado com Leonard. Todos são meio clichês, mas ainda assim bem construídos. 

Acho até mesmo que os personagens são mais densos que o enredo em si. A premissa do livro me deixou com um gostinho de que o livro seria mais profundo. Não que o livro seja ruim, eu fiquei presa pela história e fiquei curiosa para saber o que acontecia com cada personagem e como era o fim.
Mas o final do livro não é nada demais. Não que o final determine se um livro é bom ou não, só que acho que a história prometia mais.
No fim das contas, acho que o livro vale a pena pelos questionamentos que propõe e pela reflexão que podemos fazer em alguns momentos. Não que seja um livro super prosunfo, mas faz a gente parar e pensar em alguns aspectos da nossa vida sim.
De qualquer forma, continuo gostando do autor e já estou com vontade de ler o novo livro dele.

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Vergonha

Sheila era uma morena bonita, de seios fartos e cabelos negros cacheados, morava no Méier e trabalhava de segunda à sexta das 9h às 18h, como secretária em uma clínica de exames médicos para empresas (daqueles que temos que fazer quando somos admitidos ou demitidos) no centro da cidade. Mas ela tinha uma grande vergonha na vida: gostava de música clássica.
Todos os dias, Sheila pegava o ônibus e colocava em seu smartphone músicas clássicas para tocar enquanto enfrentava o trajeto de praticamente uma hora que a separavam de sua casa até o trabalho. Por conta dessa vergonha, mudava o nome dos arquivos para que as pessoas pensassem que o que ela escutava mesmo era pagode. Mozart, por exemplo, virava Molejo, Tchaikovsky, Terra Samba, Beethoven, Bom Gosto e assim por diante.
Sheila não sabia explicar muito bem a razão para tal vergonha, mas tinha receio de que as pessoas pensassem que ela era pedante por gostar daquele tipo de música. O fato é que ela escondia esse segredo como quem esconde que come meleca. Como se fosse algo repugnante e inaceitável.
Mas além do gosto pela música clássica, Sheila ainda tinha outro hábito que seus amigos não conheciam: ela fazia bicos em uma casa de suingue. Duas vezes por semana, ela ia para um estabelecimento, em Copacabana, e ficava por lá para o caso de algum frequentador(a) desacompanhado aparecer querendo entrar. Como pessoas sozinhas não podiam frequentar o local, Sheila oferecia sua companhia.
Em um desses dias, a morena aguardava algum solitário chegar, quando deu de cara com o Rogério, um dos médicos da clínica. O doutor, coitado, ficou completamente sem jeito, mas não tinha o que fazer, Sheila já o tinha reconhecido, então, resolveu que ia entrar para não perder a viagem.
Já a secretária manteve o profissionalismo e atendeu o doutor como sempre fazia. Lá dentro realizou todas as fantasias que Rogério propunha, e, entre uma brincadeira e outra os dois começaram a ficar mais íntimos.
A química entre os dois foi tanta que resolveram sair dali e ir para um motel. Passaram a noite inteira praticando as mais estranhas posições. E entre uma posição e outra, Sheila foi tomar um banho e quando volta, viu Rogério mexendo em seu celular. O coração da secretária parou por alguns instantes, a respiração faltou e ela só conseguiu voltar a si quando escutou o doutor falando "Nossa, você também é fã do Molejo? Eu adoro!". Ele não havia escutado as músicas, apenas tinha fuxicado o nome das músicas (um hábito um tanto quanto invasivo), o segredo de Sheila estava a salvo.
O mesmo não se pode dizer da relação entre os dois, ela até aceitou o convite de Rogério para sair mais umas duas vezes. Foram noite de sexo maravilhosas. Mas a verdade mesmo, é que Sheila não conseguiria falar sobre pagode com o doutor pagodeiro a cada vez que encontrasse com ele. Além disso, preferia manter seu segredo a salvo e continuar ouvindo música clássica no ônibus.

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Eu li - O lado bom da vida

Título original: The Silver Linings Playbook
Autor: Mathew Quick
Editora: Intrínseca
Número de páginas: 256
Ano: 2013

Se eu fosse descrever esse livro em apenas uma palavra diria que ele é simples. E foi justamente essa simplicidade que me atraiu tanto na história, é o que torna o livro tão gostoso de ler. Eu já havia visto o filme e, apesar de ter gostado, não entendia muito bem o alvoroço em torno dele, ele é bom e fim. Já o livro merece um pouquinho desse frenesi na minha humilde opinião. O filme é apenas levemente inspirado no que é contado no livro.
A história começa quando o personagem principal, Pat Peoples, (Bradley Cooper, no filme), sai da clínica psiquiátrica onde estava internado desde que havia tido um incidente com sua (ex?) esposa Nikki. Pat não se lembra do que o fez ir para o “lugar ruim” e não sabe quanto tempo ficou por lá, além disso, tem certeza de que irá reatar com sua amada esposa e que a separação é apenas temporária. E Pat é um cara cativante, muito ingênuo e dono de um ótimo coração (disposto a ser gentil), impossível não gostar dele e se identificar com seus dramas.
Outra personagem cativante é Tiffany (vivida no filme por Jennifer Lawrence) que, assim como Pat, já esteve internada em uma clínica psiquiátrica. Tiffany perdeu o marido, um policial, e desde então vem sofrendo com a perda. A personagem é um pouco manipuladora e grossa, mas está disposta a ser uma boa amiga para Pat, mesmo que não encontre as maneiras certas de ajuda-lo.
Há outros personagens importantes na trama como os pais de Pat (o pai no filme é uma figura COMPLETAMENTE diferente da do livro), o Dr. Cliff, seu terapeuta, seu irmão Jake, além de seu melhor amigo Ronny.
A partir dai, a história simples, mas encantadora, se desenvolve mostrando os dramas da mente perturbada de Pat (que é mostrada de maneira bem bacana pela maneira como o autor escreve) e sua busca incansável no reencontro com Nikki.
Vale muito a leitura, mesmo que já tenha visto o filme. São duas histórias bastante diferentes. Arriscaria dizer que apenas os personagens e uma ou outra situação ligam uma coisa a outra.