sexta-feira, 7 de março de 2014

Pareidolia

Não sei bem quando parei com tal mania, mas só sei que já faz algum tempo não a coloco em prática.
Quando era criança eu tinha várias delas, tomar banho e não esfregar entre os dedos do pé; deixar a televisão ligada para que meus pais desligassem quando eu dormisse; espalhar a comida no prato para fingir que tinha comido, roer unha; comer salsichas cruas da geladeira, deixando-as com uma mordida dentro do pacote...
Mas de uma delas guardo uma memória especial, a de procurar formas amigáveis em tudo que pudesse, a começar pela mais clássica de todas: as nuvens. Nunca queria achar um carneiro, o legal era tentar encontrar o mapa do Brasil ou um velho narigudo com chapéu e cachimbo ou então uma águia caçando um pequeno rato metros de distância abaixo ou, quem sabe, um velociraptor em ação. Só que nem sempre o céu estava com nuvens branquinhas e fofinhas, mas mesmo assim, a minha mente criativa infantil tratava de procurar algo de interessante em qualquer lugar.
Como no banheiro lá de casa. Lembro de sentar no vaso para fazer número dois e ficar procurando formas nas manchas cinzas dos azulejos, achei Jesus Cristo (que não virou ponto de peregrinação), uma lagartixa com um rabo muito longo, uma barraca de praia e um cachorro com uma orelha de pé e outra caída, acabava sempre demorando mais do que o necessário sentada no vaso.
Outro objetivo inanimado que ganhava vida aos meus olhos de criança era um abridor de garrafas que ficava preso na parede da cozinha da primeira casa que morei, ele parecia ser um sapo com olhos alertas e esbugalhados. O mesmo acontecia com a pinça da minha mãe, bastava um olhar mais atento e ela virava uma planária de um olho só. O despertador da minha avó também escondia, no seu verso, um rosto triste e cheio de verrugas.
As frutas empilhadas na fruteira também poderiam se transformar em um personagem e até mesmo a sombra da copa das árvores da rua podiam esconder algum desenho curioso, bastava que eu estivesse disposta a encontrá-los.
Acho que talvez por isso não tenha mais praticado essa mania, por falta de disposição. Quem sabe eu não tente ser um pouco menos preguiçosa e distraída e pratique um pouco mais da pareidolia.

Post inspirado por este comercial:


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