quinta-feira, 23 de maio de 2013

O machismo das pequenas coisas

Ontem um post no blog Papo de Homem bombou no face. Eu curti, me identifiquei com muita coisa e compartilhei também. Depois disso fui indagada se era feminista. Parei pra pensar em uma coisa, acho que as pessoas não sabem bem o que é ser feminista. Ser feminista não é ir a praça pública queimar os sutiãs, nem deixar de se depilar, nem abolir a maquiagem das suas vidas, nem considerar escova progressiva proibido. Se isso fosse ser feminista, eu não seria (eu me depilo, gosto de pintar as unhas e usar maquiagem de vez em quando). Mas ser feminista não é isso, ser feminista é buscar a igualdade de direitos entre os gêneros, apenas isso. Lutar pelo direito das mulheres não serem espancadas, estupradas, mas também é lutar pelo direito da mulher não se depilar se não quiser, não pintar as unhas se não gostar, não fazer escova progressiva se preferir deixar os cabelos ao natural, sejam eles como forem, não ter que mudar de calçada para evitar cruzar com um grupo de homens entre outras coisas. O machismo não está só na violência explicita, está também nas pequenas coisas do nosso cotidiano.
É claro que não posso comparar o tipo de machismo que vejo na minha vida com aquele que algumas mulheres (especialmente no oriente) enfrentam. Eu não sou obrigada a usar uma burca e nem a casar com quem a minha família determina, não vou ser apedrejada em praça pública se meu marido assim decidir...
Mas isso não quer dizer que eu não passe por situações causadas pelo machismo e que me diminuem pelo simples fato de eu não ter tido o incrível privilégio de nascer com o maravilhoso, incrível e vitaminado órgão reprodutor masculino!

Eu fui uma criança que sempre gostei mais de brincadeiras "de menino". Eu até brincava de barbie, mas preferia brincar de carrinho ou jogar bola, por exemplo, mesmo que eu fosse uma negação dos esportes. Eu tive sorte de ter amigos que achavam isso normal. Mais sorte ainda de ter pais que também sempre respeitaram esse meu jeito. Meu pai, inclusive, adorava levar a pequena flamenguista dele para o Maracanã ver os jogos do Mengão. A primeira música que ele me ensinou foi uma música do Flamengo. Ele me ensinava a chutar a bola para ver se eu aprendia alguma coisa, não adiantou, mas valeu a tentativa!
Só que esse mesmo pai bacana que incentivava sua filha a ser como era tem os seus pequenos machismos enraizados. Em uma conversa com ele há algum tempo, tive que ouvir dele que essas cantadas na rua são uma “brincadeira saudável”. Não, pai, não são! Uma brincadeira para ser brincadeira e mais ainda para ser saudável tem que partir do princípio que as duas partes se divertem e ai, a partir do momento em que você não sabe como o outro lado vai aceitar e gostar da sua “brincadeira saudável” ela deixa de ser uma brincadeirinha para ser uma agressão. Acho que meu velho entendeu meu ponto.
Essa semana, passei em frente a um bar cheio de homens (claro, mulher no bar não é bonito, né, minha gente?) e tive que ouvir aqueles beijinhos estalados voando no ar. Tem gente que acha que é um elogio? Será? Eu me sinto bastante incomodada com esse tipo de coisa. Assim que vi aqueles homens lá, já sabia o que passaria e desejei ter trocado de calçada na rua ou estar acompanhada de um homem. Afinal, mulher acompanhada, em geral, ta protegida dessas coisas. Mulher sozinha é um bife, não é mesmo?
Vai ter gente que vai dizer que isso é frescura. Mas será? Claro que eu não apanhei, nem fui estuprada. Mas isso quer dizer que é ok me abordar dessa maneira? Não acho aceitável esse tipo de invasão. Invasão mesmo, porque me sinto invadida quando tenho que lidar com coisas desse tipo. Isso sem nem entrar no mérito de que tem gente que pensa quem tem mulher que pede isso (e também o estupro) por causa do jeito que se veste. Tipo de coisa que cansa a minha beleza e inteligência.
Outra coisa que me incomoda nesse machismo das pequenas coisas é quando falam “Poxa, mas hoje em dia os homens ajudam na casa”. Ajudam? Isso parte logo do princípio que a mulher tem que fazer mais e que a participação do homem se resume a uma ajudinha aqui e outra acolá. Do meu ponto de vista não deve rolar uma ajuda, mas uma cooperação em que ambos os lados têm o mesmo nível de responsabilidade na casa. Por que tem sempre que ser a mulher quem pensa o que está faltando na casa para fazer a lista de compras? Por que é a mulher que tem que ir lá e pedir a ajuda do homem? Por que não parte deles a iniciativa de lavar uma roupa ou varrer a casa? Cuidar dos afazeres domésticos não deve ser natural para eles como é para nós? No meu mundo utópico sim.
Acho que o machismo pode ser maléfico até mesmo para os próprios homens. Coitado de um cara que gosta de fazer a unha ou se preocupa com o shampoo que vai usar no cabelo. Vai ser logo taxado de bichona. E ainda tem isso, esse mundo machista acha que chamar de gay é ofensa.
Posso ter falado mais do mesmo aqui nesse post. Mas talvez esse tipo de coisa seja necessária. Pelo menos pra mim. Escrever me faz bem.
Eu ainda acredito em um mundo com igualdade de gêneros e mais feliz! Em uma sociedade em que as mulheres tenham os mesmo direitos que os homens. Desde salários iguais até o direito de conseguir andar na rua sem camisa sem ser estuprada, julgada ou comida com os olhos!
Pra finalizar a dica de um vídeo bacana colocando os homens no nosso lugar. É ou não é muito bacana ouvir esses elogios?


4 comentários:

  1. Eu também nunca me achei grande atuante na causa feminista, mas cada vez mais me identifico.
    Outro dia conversando com uma amiga portuguesa e os respectivos maridos, falávamos disso e o marido dela “diminuindo” a gravidade do assédio nas ruas, vindo com esse papo de que era “brincadeira”. Até que falamos: ok, e as vezes que passaram a mão na gente no meio da rua, no metro, as vezes em que o homem do nosso lado no ônibus colocou seu “instrumento” pra fora e começou a se masturbar, etc. Ele ficou chocado, nem sabia que essas coisas já tinham acontecido com a esposa dele também. E sim, acontece com quase 100% das mulheres, rotineiramente.
    Essa coisa dos afazeres domésticos, outro dia li uma matéria que dizia que mesmo o homem fazendo toda as tarefas domesticas junto com a mulher (lavar, passar, cozinhar), a carga de trabalho feminina será sempre maior por causa das "pequenas" coisas que vc mencionou, como fazer a lista de compras, tomar as decisões sobre a administração da casa, dos filhos, etc.
    Ou seja, ainda há um longo caminho a ser trilhado para que haja a igualdade entre homens e mulheres...

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    1. Com certeza que ainda há um enorme caminho a trilhar. Mas eu vejo muitos avanços já, ainda bem! Pelo menos na minha casa as coisas estão bem melhores, a cada dia o Rafael é mais proativo com as coisas domésticas.
      Eu nunca fui criada para fazer as coisas de casa. Nunca precisei nem mesmo arrumar minha cama e nunca tive exemplo da minha mãe. Se fosse pelo exemplo dela, eu iria contratar uma empregada. rs
      Mas aprendi que mesmo não gostando, eu tenho que fazer. Vale o mesmo para os rapazes.
      Quanto aos assédios, podem falar o que for. Eu não me acostumo e não gosto. Acho muito chato ter que passar e ouvir brincadeirinhas por mais "inocentes" que sejam. Dispenso completamente esse tipo de "elogio".
      Espero que, se um dia tiver filhos, consiga ensiná-los a não serem machistas, sendo meninos ou meninas. Por que vamos combinar, né? Pir que um homem machista só uma mulher machista.

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  2. Ótimo texto. Completo e fácil de ler.

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